As médias, pequenas e microempresas devem começar a pensar no tema da sustentabilidade para conseguir fazer negócios com as grandes companhias.
Por Marcus Nakagawa*
As atividades relacionadas à sustentabilidade estão se tornando cada vez mais estratégicas para as grandes empresas e as multinacionais. Essas companhias, que possuem produtos e serviços que podem ser acessados em vários outros países, preocupam-se sistematicamente com seus fornecedores locais – grandes, médias e pequenas empresas –, no que se refere às regras mundiais de trabalho decente, de proteção ao meio ambiente, de conduta ética e de gestão transparente, entre outras.
Para certificar-se de que seus fornecedores estão cumprindo as normas de compliance, as empresas criam indicadores, auditorias, linhas de denúncia para questões éticas, mantêm equipes dedicadas à gestão dos fornecedores e de outros públicos de interesse, enfim, várias atividades que fazem o controle e o engajamento dos seus stakeholders. Envolver-se com esses públicos é um fator essencial nos dias de hoje, pois, quanto mais as empresas entenderem sua cadeia produtiva e esses grupos organizacionais de relacionamento, mais elas poderão agregar valor aos seus serviços e produtos.
Uma das formas de essas grandes empresas demonstrarem as atividades que vêm realizando em sustentabilidade e o quanto estão se envolvendo com os seus stakeholders é a produção de um relatório de sustentabilidade. Como mostra a “Pesquisa Internacional sobre Relatórios de Responsabilidade Corporativa 2013”, da KPMG, dentre as 100 maiores empresas em cada um dos 41 países pesquisados, ou seja, as 4.100 principais empresas no mundo, quase três quartos (71%) relatam suas práticas em favor do desenvolvimento sustentável num documento sobre o tema. Trata-se de um aumento de sete pontos percentuais em relação ao início dessa mensuração, em 2011. As empresas no Brasil também estão entre as que relatam esse tipo de atividade, com um índice de 78% das 100 maiores empresas.
A prática de relato não é somente a produção de um bonito livro com fotos da empresa, que vai ficar na estante dos diretores e vice-presidentes. Ela serve também como uma ferramenta de diagnóstico de trabalho, pois, no momento em que se busca a informação para rechear o documento, a avaliação é desenvolvida. Ou seja, nesse momento, descobre-se o que a empresa está fazendo, o que gostaria de fazer, o que não está fazendo e o que está errado.
No conteúdo do relatório, entram temas institucionais da empresa, tais como estratégia, risco e oportunidades; as questões de materialidade; metas e indicadores sociais, ambientais e econômicos; os fornecedores, a cadeia de valor e os outros stakeholders; o engajamento desses públicos de interesse; como funciona a governança corporativa; e como é a transparência e o equilíbrio. O modelo que a maioria dessas empresas utiliza são as diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI). No Brasil, segundo a pesquisa da KPMG, 91% das empresas utilizam essa metodologia, o que nos deixa em quarto lugar no ranking mundial de utilização dessas diretrizes, ao lado da Suécia e do Chile.
E quanto às pequenas, médias e microempresas? Elas também podem ter o seu relatório de sustentabilidade?
Cada vez mais é necessário que essas empresas comecem a pensar no tema da sustentabilidade para que consigam fazer negócios com as grandes companhias.
Para que a implementação das atividades chegue a um relatório completo como o que megaempresas fazem, será um pouco mais difícil. Porém, se utilizarem a metodologia de verificação e avaliação dos indicadores, já terão um bom começo. Outro ponto interessante para as PME é utilizar essa ferramenta de comunicação das grandes empresas como um modo de entender os negócios, as diretrizes, a forma como as grandes companhias fazem os seus processos e como tratam os seus públicos de interesse.
Quem sabe numa análise mais profunda a sua PME não consegue descobrir uma necessidade de serviço ou produto que a grande empresa tem e com isso tornar-se mais um fornecedor dela?