Eu já pago impostos da minha empresa, contrato funcionários formalmente, tenho todas as licenças de operação e além de tudo isso tenho que me envolver com a comunidade do entorno? Fazer projetos focados em melhorias para eles? Quantas vezes já não escutamos empresas tradicionais se questionando sobre este tema? E muitas vezes estas ajudam a igreja vizinha, a creche da amiga da esposa ou a festa na escolinha do filho e nem se lembram disso?
Quando pensamos no crescimento sustentável de uma empresa é necessário questionar também o desenvolvimento do seu entorno, estando ela em um bairro misto com residências ou em um bairro específico de comércio ou de indústrias. Seus vizinhos ou comunidade no entorno, precisam ser trabalhados para que os impactos da empresa sejam minimizados, mitigados ou até eliminados.
Quando falamos de uma indústria precisamos pensar em todos os impactos que ela possa causar: barulho, trânsito de veículos e pessoas, poluição dos resíduos, poluição no ar, poluição visual, enfim, tudo o que possa provocar algum tipo de impacto negativo para a vizinhança. Para um comércio ou um escritório esses fatores também serão parecidos, além do aumento de fluxo de pessoas, aumento do lixo, outros serviços virão em função destes estabelecimentos.
Na maioria das vezes, o empreendedor tenta adivinhar quais são os impactos que o seu estabelecimento, indústria ou negócios estão causando. E começa a fazer suposições e analisar todos os seus processos. Isso pode ser o início da análise, mas uma melhor forma de agregar valor a este processo seja pedir sugestões para a comunidade. Sim, fazer uma reunião com o líder do bairro, com os estabelecimentos vizinhos, com a igreja ou clube do lado, por exemplo.
Este canal de comunicação com a vizinhança pode ser uma reunião semestral ou anual, pode ser um e-mail que a empresa disponibiliza para que as pessoas possam escrever suas opiniões, ou senão buscar um representante da comunidade local que será os “ouvidos” para as reclamações e sugestões, e se forem todos estes melhor ainda.
Quem sabe a empresa não pode ajudar a comunidade com algumas questões como melhorias na infraestrutura ou no ambiente local como: melhorias nas habitações, estradas, escolas, creches, hospitais etc. Este relacionamento se dará muito em função do que a empresa quer com este grupo de interesse, ou seja, a comunidade do entorno. Não que a empresa substituirá o governo, mas ela inclusive pode ser um agente de mobilização em conjunto com comunidade local para solicitação de melhorias aos governos locais, dessa forma, somando forças para uma transformação da região.
Lógico que a empresa não conseguirá atender a todas as demandas, até porque o foco destes pequenos e médios empresários será vender mais, sobreviver e crescer. Porém, este tipo de ação, além de garantir o desenvolvimento sustentável agrega valor para a marca e para os produtos / serviços desta empresa. Além disso, geralmente, os funcionários fazem parte deste entorno da empresa, o que faz com que eles venham trabalhar mais motivados e, quem sabe, ainda mais felizes.
*Marcus Nakagawa é sócio-diretor da iSetor; professor da ESPM; idealizador e presidente do conselho deliberativo da Abraps (Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade); e palestrante sobre sustentabilidade, empreendedorismo e estilo de vida. www.marcusnakagawa.com
1 Comments
Caro professor Nakagawa,
Verifico que questões envolvendo Sustentabilidade em empresas brasileiras têm orbitado em torno de constelações representadas por grandes empresas. Seja por própria iniciativa, seja por motivações de natureza compulsória, o tema tem avançado, nesse grupo de empresas, com certo grau de sucesso, mas ainda (em grande medida) circunscrito aos limites de suas próprias fronteiras. De outro lado, políticas públicas que se apropriam do tema Sustentabilidade me parece carecerem de um alcance satisfatório e consistente em grande parte das cidades do país. De outro lado, o conceito Sustentabilidade ainda não permeia o ambiente das PMEs num nível que possa influenciar comportamentos mais sustentáveis dos clientes dessas empresas nas suas relações de consumo. E por falar em políticas públicas, A SABESP, por exemplo, não só aumenta o valor das tarifas de fornecimento de água, como retira o bônus por economia do recurso! Recomendável seria que o bônus fosse tomado como investimento permanente e não como custo. Afinal, a natureza tem seus ciclos. Resultado: o nível de conscientização, sobretudo dos consumidores de toda espécie de produtos, serviços e consumo de recursos naturais tem se mantido num estágio muito aquém do desejável. Basta que se faça uma busca nas nossas lixeiras! Entretanto, para aqueles quem podem ver, esse cenário abre um mar de oportunidades (sociais, ambientais econômicas). Não tenho dúvidas de que o Sr. faz parte desse grupo. Parabéns pelo trabalho.